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“Onde estavas no ano passado?

Respira Fundo,

Respira Fundo

 

O ar enche-me os pulmões e depois?

O meu sangue recebe 

Esta graça pela qual

Vivo mais alguns momentos,

Todas as minhas células repletas.

Cada vez que respiro

Parte de mim separa-se

E algo novo

É posto no lugar.

 

O arroz que comi ontem,

Onde está agora?

Nos meus músculos, nos meus ossos.

O sumo que partilhámos,

Para onde foi?

Para os nossos braços e pernas e tudo.

 

No mês passado

O arroz ondulava ao sol

Noutras Terras:

Nas planícies baixas

Do Mississipi

Ou Irrawaddy;

E os frutos suspensos

Das árvores em Chipre

Sicília ou Espanha.

 

E antes disso?

Antes disso a sua substância

Estava no solo,

Estava no ar,

Estava nos mares.

Estava nos mares

À espera de ser colhida

À espera de se elevar até aos pontos mais altos do céu,

À espera de se transformar em chuva.

 

Tu e eu

Somos principalmente água.

No ano passado

A maior parte de cada um de nós 

Estava no oceano.

Circulávamos juntos

No Atlântico,

Ou no Pacifico talvez,

Pois somos principalmente água.

 

E essa água foi erguida

Pelo calor do sol,

Pelo impacto de fotões

A cair em cascata,

Batendo no rosto do oceano.

 

E cada fotão

Provém do Sol,

Do ventre de uma estrela;

Tu e Eu fomos estrelas no ano passado.

Perseguimo-nos um ao outro

No centro turbulento do Sol.

 

Portanto, quem vivia na tua casa no ano passado?

E onde estarás na semana que vem?

Quem é o teu amigo verdadeiro e quem é o teu inimigo?

E quem serás tu no ano que vem?

 

Respira fundo,

Respira fundo.

 

Este ar sou eu.

Este ar és tu.

Este ar partilhamos.

A ti dou a minha substância e

Tu dás-me a tua.

 

Cada vez que respiro ligo-me

Numa orbita única

Com as grandes florestas.

A minha expiração é o seu alimento,

A deles enche os meus pulmões.

No ano passado 

Eu era uma árvore

E a árvore era eu.

 

Todos os dias

Recolhemos substância

E continuamos a tarefa

De interminavelmente 

Nos reconstruirmos

Uns aos outros

 

Todos os dias

Nos desfazemos de uma porção

E continuamos o ciclo

De interminavelmente 

Nos devolvermos

Aos outros.

 

Dia a dia mudamos

E transformamo-nos uns nos outros,

A substância do universo,

Poeira de estrelas e tudo,

Atravessando cada um de nós 

E nós atravessando-a

 

Onde estavas no ano passado?

Respira fundo,

Respira fundo.”

David Brazier (in Terapia Zen)

2018 Núcleo de Yoga da Moita

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